NAS MALHAS DE UM ENGENHO
Sempre me disseram — e sempre reconheci ser exacto – que para cantar é necessário ter uma voz. Uma verdade exclusiva que palpita com o coração. Um engenho. Que emerge como um pequeno dado genético, que se vai desenrolando, seguindo para uma existência invulgar, tornando-se resiliente na evolução gradual do indivíduo em sociedade. Ampliando o talento, a precisão e a nitidez. Como uma desordem matemática, a dissipar-se de geração em geração, os rituais de interacção encaixam-se e formulam novos caminhos. Contudo nesse complexo químico, de ciência e de acasos, o corpo humano é o resultado de uma mesma arquitectura. A destreza e a faculdade, que criam essa fisionomia de coisas possíveis, estão-lhe incorporados desde a sua fundação. O Homem, esse bicho raro. Uma coisa grande de se ver, irrequieto, cheio de paixões e ímpetos em ebulição, mas também pejado de contradições. Capaz de tudo, António Conceição Júnior, homem acima de tudo macaense, acredita que todo o dom se constrói, que se mol