45 ANOS DE CRIACTIVIDADE

 


Tornaram-se anos os dias vividos um a um, como se, subitamente, se tivesse desenrolado um novelo de fio e este corresse pelo chão, deixando um rasto de sonhos, ideias, projectos e a emergência de realidades concretas. Olhando para trás constato que a palavra design me não satisfaz, porque entendo que prefiro o arquétipo da criatividade enquanto processo de reflexão intelectual. Talvez por isso raramente procurei ser um autor afirmativo, alguém que fez de si próprio o eixo do mundo em que vive. Preferi invariavelmente olhar a forma ou a imagem na sua essência, ostentando-a como significante, respeitando a sua identidade. Mas para mim a parte gráfica que nem sempre é entendida como uma outra disciplina das muitas que povoam a região da criatividade, tem uma função minimalista, pouco adornada. Deve, para mim, cumprir a função primária: a de ter inteira legibilidade. Não pretendo qualificar o que fiz, nem sequer justificar-me. Penso apenas que a maioria das pessoas tem necessidade de classificar os autores. Ou são pintores, gráficos, fotógrafos, ilustradores, ou então avoluma-se a confusão brumosa. Pois então digamos que o novelo de fio que se desenrolou não é de cor única. É o que é, na certeza porém de que tem uma origem única, bebida em fontes diversas. Não consigo deixar de ver a perspectiva holística e as ligações entre a joalharia, a medalhística e a armaria, a ilustração e o traje e moda, a fotografia e a pintura. Talvez nunca me tenha querido sentar no conforto de uma só disciplina, talvez seja um nómada da minha interioridade. Apenas me revejo numa coisa: não sei ser de outro modo. E à medida que o fio dos anos cresce, mais se acentua esta vertente, agora com outros ritmos, que talvez mereçam ser ouvidos. Se ao fio dos anos houver mais fio.




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