PALESTRA SOBRE PRIMUM LUMEN

PALESTRA DO DR. LUÍS SÁ CUNHA SOBRE A OBRA

PRIMUM LUMEN DE ANTÓNIO CONCEIÇÃO JÚNIOR 














A primeira coisa que me ocorre dizer, é que esta exposição, ou esta manifestação, se prestava a ser encenada. Ela é uma explicação mitográfica de um momento de criação, que nos reporta e nos faz ascender aos começos do mundo e ao átrio onde se aflora o mistério da maior, da mais perturbante e abísmica dualidade cósmica – a que nos faz enfrentar o antagonismo ou complementaridade ou bipolaridade da Luz e das Trevas.


Falei em explicação Mitográfica. Explicação no sentido puro latino, de explicare, desdobrar para fora, passe a redundância, as múltiplas, infinitas, visões da manifestação inicial, dos tempos do princípio. 

Seria muito sugestivo “recriar-se” aqui, através das tecnologias que acessivelmente o permitiriam, uma atmostera insinuante de luzes e sombras, uma sonoplastia de murmúrios, que induzisse os presentes à melhor sintonia com o que ele nos quer transmitir. Muito propriamente: à contemplação do mistério, à consonância com as sinergias do templo.

Mas viemos agora mesmo lá de fora, perturbados pelo “som e a fúria” das multidões de carros e de gentes, pelas sacudidelas caóticas do trânsito, o estrépito das buzinas, de tantas tensões aleatórias que figuram o caos. Viemos do profanum.

E o que vemos à nossa volta chega para nos fazer reconstituír o templo, no estimular a ver claro e a descortinar a luz por entre os sucessivos mantos da noite.


Sabemos qual o tema, porque nos foi dado como bordão, pelo autor – primum lumen – a primeira ou primordial luz. Mas creio que, sem nenhuma indicação, nos seria a todos acessível intuír e até compreender o que nela se derrama de sentido.

Fui passando os sucessivos fotogramas no écran do computador, e, esforçando-me por contornar a tentação literária que eles reclamam, fui registando em duas folhas de papel:

* a constante e resistente “pressão” da luz para abrir clareiras na espessura da noite.

* transparências, “linhas de água” nas manchas opacas. 

* massas nocturnas a estrangular rasgos luminiscentes. 

* estremecimentos de matérias dúcteis. 

* grutas onde se rasgam, já gloriosos e triunfantes, focos, luzemas de claridade.

* auras de luz vaporosa. 

* poalhas, expansões gasosas de matérias mais subtis. 

* efémeras palpitações de focos luminescentes. 

* claro-escuro de radiografias. 

* tímidas claridades tintadas de desmaiadas colorações, luzes que inventaram já o seu império no escuro rasgando janelas e pórticos. 

* nascentes arquitecturas de vidro fungido. 

* ondeações marmóreas. 

* águas estremecidas pelo sopro dos zéfiros, delicadas crispações de epidermes. 

* expansões vibratórias de invisíveis violoncelos. 

* em tudo, a noite a povoar-se de luzes e sons.


Não vos posso agora dizer as razões racionadas de algo de comovente que me aconteceu no momento em que observava tudo isto: a evocação fulminante de um poema que apaixonou a minha juventude, o poema “Ofélia” de Rimbaud – onde magicamente se conjugam a noite primordial, os astros acabados de doirar, o requinte dos “hallalis” a ondeação dos longos cabelos da jeune Ofélie, “belle comme la neige” na corrente pura do rio.

Talvez Ofélie tenha encontrado a morte, porque, ao mirar a sua imagem no espelho das águas, apenas se tinha visto a ela própria, admirada de si. E é necessário não remirar, mas contemplar, que vem de templo.

Mas digo que o poema assistiu à criação do mundo, e que partilhou o acto genesíaco.


Desde muito cedo que a pintura me interessou, mas o meu fascínio foi atraído pela – assim a vi designada então – “pintura metafísica”. Aquela que, como dizia Camões da grande poesia, “faz que leia mais do que vê escrito”: ou seja, a que deusa de sentidos, provoca o conhecimento do visível para o invisível, a que propondo o problema estimula à desvendação do enigma e, depois, à iluminação do mistério.


É perante isso que estamos. E, uma das suas marcas identificativas, é que ele é maior do que o seu autor, e diz mais do que ele diz ou quis dizer. Porque ele foi visitado por um mundo transcendente. Perante ele abrem-se os labirintos das maiores profundidades e os azuis das mais gratificantes iluminações. Ainda por cima, neste caso, porque ele nos conduz (quase) ao centro do mundo e ao mistério dos mistérios. Abrem-se, em cruz, todos os caminhos, todas as visões, intuições, apreensões do ser e do real.

Acercamo-nos da fronteira abísmica da loucura ou das revelações, com um arrepio de terror. Ele já não pertence ao autor ou mediador que a transmite. Ele é nosso, é de cada um que quer ver em cada fotograma um sinal de trânsito, um semáforo luminoso de desvendação da noite, da luz e da noite que o habitam.

Como ondas de um mar infinito, ela é sopro que nos provoca interrogações sobre interrogações, sem terminar nunca.



À Beira do Abismo

Foi um jorro inestancável de coisas que se sangrou no meu espírito ao percorre-la.

Rememoração de leituras antigas, reminiscências de pensamentos e conquistas antigas, leituras novas e consideração de novas teorias e conhecimentos redescobertas e, sobretudo, renovação de antigos caminhos.

Não vou agora, nem posso, entediar-vos com a rememoração de inúmeras citações sobre a obsessão da luz em todas as grandes e até pequenas tradições de todos os tempos desta Humanidade. Em todas elas, mais ou menos coincidentemente, (tradição oriental e ocidental, da Índia ou da China, do budismo ou do islamismo, da judeo-cristã, dos neoplatónicos, aos gnósticos, aos alquimistas passando pelos idealistas alemães ou pelos surrealistas, por Goethe, Shakespeare, Novalis ou Camões etc. etc.) em todas elas o mistério reside na Luz, a divindade revela-se na Luz, a divindade é Luz, e os grandes heróis são os que triunfaram na escalada para a “posse” da Luz. E, narrados de formas tão diferentes, todos os processos de realização espiritual são anunciados ou marcados por momentos epifânicos da luz, o sagrado por hierogamia luminosa.

Provar nas trevas para alcançar a luz.

Assim o podemos ver, por exemplo, simbolicamente representado nos ritos de iniciação de algumas sociedades secretas ou discretas, em que o neófito, de olhos vendados, tem de encontrar o caminho para a iluminação, a luz que lhe é dada então. Aí se repete a reconstituição dos tempos primordiais, “quando” a luz ou logos ordenaram o caos em cosmos.

Ou, outro entre mil exemplos, no ritual cristão do baptismo que primitivamente significava “dar a luz” (fotosmos).


Por trevas se entendia, nestas tradições, o estado caótico das formas não manifestadas, o mundo informal, confuso, homogeneizado, das formas e seres em pura potencialidade, antes de serem actualizadas (Aristóteles – potência –> acto), entificadas em seres, formas ou mónadas individuais, por obediência à “ordem” do “fiat lux”.

E, entre as mil vias possíveis, a direcção que nos indicaram quase sempre é a da reconquista do estado original depois de atravessar o Paraíso, virar o curso do rio para a nascente, retroceder nas etapas já percorridas para adunação ao princípio de tudo e de nós, operar a coincidência, com dois perfeitos anéis, entre o nosso vazio e o vazio primordial, bem-aventurados os pobres em espírito. Reencontro glorioso da pequena com a grande luz, como a pequena onda que se espraia, mas é reintegrada no infinito oceano luminoso.

Trememos, de pequenez, perante isto tudo, ao mesmo tempo esmagados pelo terror de partilharmos inconscientemente dimensões tão grandes e forças tão poderosas.


Luz e Sombras

Mas olharmos e sabermos aqui também que não podemos fugir à fatal complementaridade da luz e da treva. A luz insinua-se no mistério das trevas, as trevas esperam e obductam a luz. Tudo branco, ou tudo negro, não havia história; era tudo perfeito em sua positividade ou negatividade. Não havia movimento, e por isso, princípio movente, ou alma das coisas.

Era inexistência cristalizada, o nada ou a “verdadeira morte”. Mas felizmente que isto não existe. Não há morte no Universo.

Então começa a aparecer-nos claro que o espírito “precisa” da pluralidade da matéria informe, se não não tinha objecto, nada que ordenar e enformar. 

E que, analogamente, a Luz apela à existência das trevas, se não nada teria para iluminar. Essencialmente fala-se aqui da mesmíssima coisa, pois que, depois de descortinar milhentos véus finalmente concluímos que Luz é o Espírito.

Assim aprendemos que não há irredutibilidade antitética nem dualidade entre luz e treva, mas que a luz está penetrada de treva e que toda a treva está povoada de luz, como se vê eloquentemente na leitura do símbolo do Yin – Yang.

Nos vários planos em que a podemos considerar, no plano cosmogónico ou no plano interior, a luz está depois das trevas. As trevas precedem a luz. A noite parece ter uma existência simbólica autónoma, porque todo o universo, toda a matéria nos parecem em fremente ânsia de visitação da luz.

No “Fausto” diz a Rainha do Céu: A minha luz triunfa de toda a luz... Eu gero a luz, mas as trevas pertencem também à minha natureza. Por via da graça ou do amor, ela transmuta as trevas em Luz.

Luz é via e é fim. Mas a noite também é caminho. Dentro da noite sofremos enganos, falsas pistas, tropeções e quedas. Mas é o nosso caminho.

Diz-nos o António Conceição Júnior, que é preciso “emboscar” a luz, numa operação para a captar, isto é, cabendo-nos a nós iluminar a própria luz. Como a luta de Jacob contra o anjo do Senhor, durante uma noite inteira. Triunfante ele diz: “Que terrível lugar este. Este não é outro lugar senão a Casa do Senhor”. Sim, é preciso conquistar a Luz. Explicá-la.

A iniciação, a iluminação, a intuição, têem que ser reconstituídas pela filosofia, a razão racionante.

Mas sabemos também sem equívocos, que ocultar é revelar. Tapando-nos os sucessivos caminhos, as trevas são afinal as psicopompas das nossas travessias nocturnas, os guias da nossa peregrinação. Lembremo-nos de Sampaio Bruno: “A verdade é um erro sucessivamente menor”. Lembremo-nos de Goethe e de Kleist: os escolhidos para heróis são aqueles que tombam no pecado e no erro, os que tropeçam e caem nos obstáculos da noite, os das repetidas quedas, mas que sempre se levantam para prosseguir. “Aqueles que nunca desistem da ascensão, esses podemos salvar” (Goethe).

Depois da treva há a luz, mas depois da luz a treva.

Diz o texto vetero testamentário que, no Sinai, Moisés “penetrou na treva divina”. Lemos num antigo texto da Índia que o Deus Criador do mundo talvez não fosse Consciente, mas sonhasse.


Dizem-nos outros autores que o Autopator (o autor de todas as coisas) continha em si tudo o que existe, no inconsciente, isto é, na ausência de conhecimento de si próprio.

Com Jung, detectamos aí a potencialidade de se tornar consciente o existente em estado de latência. 

Para se conhecer, o Incogniscível teve de cindir-se em Outro, porque não há conhecimento sem sujeito do conhecimento e objecto do conhecimento.

Na imagem reflectida veio a gnose. Libertou-se o espírito que é a razão que toma consciência de si própria. Esplendeu a luz. Mas, com a cisão potenciou-se a queda e as trevas. G.Durand: “Mirar-se é já, de algum modo, ofelizar-se e participar na vida das sombras”. Que só não existem para O que vive na unidade do Espírito Santo.


Fui, nestes últimos minutos disperso, ou confuso e aparentemente contraditório. Fi-lo de propósito: porque não devemos iluminar certas sombras e porque, simbolicamente, quisemos criar uma zona obscura no meio da nossa palavra.

“Todo o renascimento passa pela confusão para se elevar à claridade” (C. Jung)


Primum Sonis

Dissemos atrás que a grande obra transcende o artista, o excede em capacidade de consciência. Também nos é evidente que as linguagens das artes são limitadas para nos expressar o pensamento abstracto. Para nos sugerir a visão das origens, António recorreu à subtileza das imagens. Mas nelas, talvez por superior intuição intelectiva, estão lá mais coisas do que os avatares da luz. Porque por todo o lado mudam os registos da omnipresente vibração. Esta mostra poderia também chamar-se – primum lumen, primum sonis.

Porque são indissociáveis, porque estão intrínsecamente adunados, a luz e o som.

Muito jovem me intrigou e surpreendeu na filosofia grega (Aristóteles dictum) a prioridade concedida ao ouvido sobre a visão. Via então nisso a humildade e a segurança da transmissão da tradição.

Mas torna-se agora evidente que o ouvido é o sentido da noite, e é de noite que estamos rodeados.


Ir ao fundo da noite é penetrar no cenário sobre o qual pode esplender o brilho vitorioso da luz. Aqui a noite nos surge sacralizada, como a própria substância do tempo que é negro, porque é irracional.

Mas como morcegos colados ao veludo preto do cenário, no secretum imo residem os arquétipos, ordenadores inconscientes das representações, como os define Jung. A noite é também o tempo e o ventre morno das germinações, da gestação, das conspirações, dos murmúrios que são as sementes das palavras claras.

Toda a simbologia da caverna nos surge então clara, como raiz de si mesma, ventre seguro do inconsciente; penetrar na caverna seria o mesmo que consumar uma aventura iniciática, para alcançar finalmente a iluminação


Atentámos, com os românticos, que o “tempo da luz é medido, mas o reino da noite não conhece nem o tempo nem o espaço”. Todos também temos da nossa observação comum como nos invisuais se apura o sentido da audição.


Sem dúvida de que, na noite, os ouvidos são mais poderosos do que a visão, aí quase cega.

Lawrence: “o ouvido pode ouvir mais profundamente do que os olhos podem ver”.

Citação curta de Gaston Bachelard: “As trevas são o próprio espaço de toda a dinamização paroxística de toda a agitação. O negrume é a própria ‘actividade’, e toda uma infinidade de movimentos é desencadeada pela falta de limites das trevas nas quais o espírito procura cegamente o nigrum nigrius nigro!!


“A Obscuridade é amplificadora do barulho, é ressonância. As trevas da caverna retêm nelas o grunhido do urso e o respirar dos montros”. 

É na noite e na noite da caverna que melhor pode ouvir-se e ressoar a palavra. No Evangelho de S. João, a palavra é associada “à luz que luz nas trevas”.


Nos Upanishads – luz é isomorfa de fogo e de palavra;


Nos antigos egípcios e judeus, a palavra presidiu à criação do universo (a ordem de fiat lux.)


C. Jung mostra que a etimologia indo-europeia de “aquilo que luz” é a mesma daquilo que significa falar.

Há íntimo parentesco do mantra indiano e tibetano com a dhikr muçulmano – valorização homóloga do isomorfismo entre o visual e o som falado.


Transmite-nos Gilbert Durand, que na tradição Upanishádica, Brahman se manifesta primeiro como nome sagrado e essa palavra sagrada foi Sphota, causa real do universo.

Sphota, o logos hindu, viria de Sphout, (partir, rebentar) parente do adjectivo Sphonta (aberto, aberto em evidência) e o seu sentido seria então “rebentar bruscamente como um grito” – Big Bang.


Assim, mais sensivelmente percebemos a poesia que vê nas mulheres, nas flores e nas estrelas, o arquétipo da Beleza, a irradiação luminosa da Verdade.

Percebemos também melhor o significado e sentido ritual dos murmúrios vibrantes de certas sociedades. 

O Coral marulhante dos monges budistas, a recitação dos mantras, palavras dinâmicas, fórmulas mágicas que pelo domínio da respiração e do verbo domam o universo.


E fere profundamente a nossa sensibilidade a “Ode à Noite” de Novalis e a “Ode à Noite” de Fernando Pessoa. Artistas da palavra, os poetas terão que ser os grandes discípulos nocturnos.

E termino este capítulo citando G. Durand: “Enquanto as cores, no regime diurno da imagem se reduzem a algumas raras brancuras azuladas e douradas, preferindo as cambiantes da paleta a nítida dialéctica claro-escuro, sob o regime nocturno, toda a riqueza do prisma e das pedras preciosas vai desenvolver-se”


Quem diz pedras preciosas diz sensibilidade feminina. Diz “processo alquímico”, marcadas as fases pelas cores puras.

Diz a imagem apocalíptica de Jerusalém celeste encrustrada de pedras preciosas de tpdas as cores.


Mas deixo-vos uma inquietação: “A luz ri e joga na superfície das coisas, mas só o calor penetra”(Novalis).


POETAS À SOLTA

E vou encerrar (que quer dizer guardar, fechar, ocultar).

E todo o encerramento requere uma chave.

Esta exposição é a obra-prima de António Conceição Júnior. Depois dele, da iluminação que a gerou, ele já não será o mesmo – porque todo o progresso espiritual é assinalado com epifanias luminosas. Eu, também não serei o mesmo, – por misteriosa convocatória fui chamado a um encontro de onde resaltou uma subida na escala que gradua a nossa ascensão aos céus. Obrigado António por este encontro.


Ele próprio, no conjunto, é um símbolo do processo de cosmogénese – sendo várias expressões múltiplas do mesmo significante, permite-nos pensar que todas elas poderiam condensar-se e referir-se a um só único fotograma, a imagem original e ideal onde concepção e manifestação estivessem contudos na sua perfeita e cabal expressão. Aí, o lugar do arquétipo invisível, antes do tempo e do espaço, que se manifestou em todos os múltiplos fotogramas. Aí o vazio que a todos originou.


Do que lemos e do que fomos aprendendo, verificamos hoje que a pluralidade dos antiquíssimos textos sagrados é convergente com as mais surpreendentes “descobertas” da ciência.


A sabedoria antiga fala-nos de onda luminosa e vibração sonora, a física quântica descreve-nos o ínfimo elemento da matéria, que é energia luminosa, como, simultaneamente, partícula e onda.


Não fez a Ciência outra coisa, ao longo dos séculos do que desmentir-se e contradizer-se sincrónica e diacronicamente.


Somos sensíveis ao grande drama dos homens, como que em jangada fragilíssima sobre o oceano dos séculos, ansiosos de uma âncora, uma estaca segura.


Compreendemos e comungamos muito com as especulações de Bachelard e G. Durand sobre o imaginal, as estruturas profundas, os arquétipos dinâmicos, sujeitos criadores de inconsciente partilhados por toda a Humanidade, que são para André Breton, “a justiça suprema” – diante da qual a contínua flutuação do progresso científico aparece como um fenómeno anódino e sem significação.


Para a cosmovisão quântica, o mundo onde estamos como que se sobrepõe ao vazio original, é como o mundo das possibilidades infinitas. A manifestação ganha carácter sucedâneo e ilusório.


O mundo interior é que cria o mundo exterior.

A matéria é toda igual (a que faz o elefante e o nenúfar, o cristal, a flor e o homem) Mas a matéria sólida não é nada, é totalmente insubstancial – parece-se com um pensamento, como um bit de informaçãp concentrado.


A sobreposição quântica postula que uma partícula pode estar em mais do que um lugar ou estado ao mesmo tempo. Tudo aparente serem movimentos possíveis da cansciência, que elege a existência de um objecto entre as várias possibilidades.


Tudo são ínfimos grânulos luminosos, o que não se sabe, o que é mistério é o factor unificante, o princípio da polarização ou individuação que lhes dá substância, e forma e existência.


Não se deixam observar e reagem diferentemente consoante o observador.

Todos os processos cerebrais de captação do real estão estudados e localizados nas zonas do cérebro. Só uma coisa nunca foi encontrada: o lugar ou centro do observador.


A criação, portanto, não é, nem implica nenhuma mudança de substância. As partículas acorrem a uma voz secreta, um polo que magnetiza a sua confluência para dar forma a uma existência. 


A consciência surge como o fundamento do ser.

Antigas sabedorias e física quântica convidam-nos para ”ver” que estamos num mundo material que é ilusório, como se estivessemos em, ou como se o Universo fosse um grande holograma.

E que reside, no mais íntimo sacrum secretum de nós, aquilo que tem o poder de convocar os milhões de milhões de grãos luminosos do universo para lhes dar as formas, princípio essente.


Acabo a citar Mircea Elíade: “o significado da luz é, em suma, uma descoberta pessoal e, por outro lado, cada um descobre o que cultural e espiritualmente estava preparado para descobrir”.


O Big Bang foi amanhã. É agora já. O momento revelador desta mostra participou dele. Será sempre assim, quando a graça da iluminação nos eleva a criadores, a imagens do criador que vê a concepção e manifestação do universo simultâneos em sua eternidade.

Como nos anunciava Agostinho da Silva: vamos todos ser poetas à solta.

 

Luís Sá Cunha


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