DEPOIMENTO JOSÉ LUÍS DE SALES MARQUES

 



É, hoje, um lugar comum, dizer-se que Macau é sinónimo de singularidade, encruzilhada, entreposto, entendimento, encontro, e tantos outros atributos que o fim do império desvendou, destas tão longínquas e, até então, ignoradas paragens do Levante.


Mas, simultâneamente ao enlevo que nos desperta este carinho tão tardio quanto inconsequente, descobrem-se, em camadas sucessivas, uma profunda superficialidade no conhecimento das ancestrais raízes que fizeram e continuam a fazer desta terra um caso especial da História. É fácil verificar, com mágoa bastante, que o produto mais nobre e sem igual de todos os atributos atrás identificados, e que me dispenso de repetir, é o macaense, filho da terra, que ao longo dos séculos foi, verdadeiramente, o elo de ligação entre europeus e chineses, o "media" da possível comunicação entre dois mundos tão diferentes e frequentemente antagónicos, o redutor de reacções potencialmente explosivas, a primeira linha de embate e absorção neste caudal infinito de emoções, contradições, paixões e razões e razões, de que Macau é feito.


Falar de Conceição Júnior, na sua dupla qualidade de homem e artista é, antes de tudo o mais, eleger o macaense em si, chamar a sua essência à boca da cena onde a sua obra se desvenda, é prestar homenagem através de um dos seus à criatividade imensa, ao pragmatismo militante, à versatilidade que emprega para comunicar através de formas diversas, à ausência sentida, à saudade do passado e do futuro, ao estar-se sem nunca se estar completamente bem, que caracteriza a alma de todos aqueles que ao longo dos séculos vão forjando a essência desta terra.


O Leal Senado, ao qual tenho a elevadíssima honra de presidir, instituição radicalmente de Macau, pôde contar, durante mais de vinte anos, com o contributo ímpar do Dr. António Conceição Júnior, sempre em funções de elevada responsabilidade. Como conservador do Museu Luís de Camões, primeiro, depois, também, como responsável máximo pelos Serviços Recreativos e Culturais, teve este ilustre macaense um ambiente propício para pôr a sua competência e elevados conhecimentos ao serviço dos seus concidadãos, o que sempre fez com grande eficácia.


Ao Dr. Conceição Júnior, desejo as maiores felicidades pessoais e profissionais e testemunho o imenso apreço pelo papel que tem desempenhado nesta hercúlea tarefa que consiste em procurar aprofundar a nossa própria identidade, em não deixar que outros façam por nós, ou julguem fazer, aquilo que a nós próprios devemos exigir.


Ao amigo, que continue macaense, como sempre!


José Luís de Sales Marques

Presidente do Leal Senado*


*Designação oficial da Câmara Municipal de Macau


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